29 de jul. de 2024

Figma AI & O Futuro do Design e os Desafios do Presente

No mundo acelerado do design digital, a inteligência artificial tem sido uma força disruptiva, prometendo revolucionar a forma como criamos e interagemos com interfaces.

No mundo acelerado do design digital, a inteligência artificial tem sido uma força disruptiva, prometendo revolucionar a forma como criamos e interagemos com interfaces.

Recentemente, o Figma deu um passo ousado nessa direção com o lançamento do Make Designs, uma funcionalidade de IA que gerou tanto entusiasmo quanto controvérsia. Vamos mergulhar fundo nessa história e entender o que aconteceu, por que é importante e o que podemos esperar para o futuro.

O Sonho da IA no Design

Imagine poder criar um protótipo de interface com apenas algumas palavras. Esse é o sonho que o Figma buscou realizar com o Make Designs. Anunciado durante o Config 2024, o evento anual da empresa, essa ferramenta prometia que designers gerassem rascunhos iniciais de designs baseados em Design Systems existentes, tudo isso a partir de um simples prompt.

A proposta era tentadora: acelerar o processo criativo, permitindo que designers pudessem rapidamente visualizar ideias e iterar sobre elas. Não se tratava de substituir o designer, mas de oferecer um ponto de partida, um primeiro rascunho que poderia ser refinado e personalizado usando as ferramentas que os profissionais já conhecem e amam.

Como Funciona a Magia (ou Deveria Funcionar)

O Make Designs não é um mágico solitário, mas sim um maestro que orquestra diferentes elementos. No coração da ferramenta estão modelos de IA de ponta, como o GPT-4 da OpenAI e o modelo Titan da Amazon. Esses modelos são alimentados com um contexto rico: Design Systems extensos, criados especialmente para esta finalidade, contendo centenas de componentes e exemplos de como esses componentes podem ser combinados.

Quando um designer insere um prompt descrevendo seus objetivos de design, o sistema entra em ação. Ele seleciona e organiza componentes, inspirado pelos exemplos fornecidos, criando designs totalmente parametrizados. Para adicionar o toque final, o modelo de difusão Titan da Amazon gera as imagens necessárias para o design.

É como ter um assistente de design altamente capacitado que pode rapidamente montar um protótipo a partir de peças pré-existentes, seguindo suas instruções gerais…

Quando o Sonho Encontra a Realidade

No entanto, como muitas vezes acontece com tecnologias de ponta, a implementação do Make Designs enfrentou desafios inesperados. Pouco depois do lançamento em beta limitado, a equipe do Figma descobriu um problema sério: alguns dos designs gerados pela ferramenta se assemelhavam demais a aplicativos existentes.

O problema foi identificado quando Andy Allen apontou que ao solicitar um design para um aplicativo de clima, o resultado era surpreendentemente similar ao app nativo da Apple. Isso acendeu um alerta vermelho para a equipe do Figma.

A Raiz do Problema

Após uma investigação minuciosa, a equipe do Figma identificou a fonte do problema: os Design Systems subjacentes que alimentavam o Make Designs. Na semana que antecedeu o Config, novos componentes e telas de exemplo foram adicionados ao sistema. Infelizmente, esses novos elementos não passaram por uma revisão tão rigorosa quanto deveriam.

Alguns desses ativos eram similares a aspectos de aplicativos do mundo real, e acabaram aparecendo nos resultados da ferramenta com certos prompts. Isso levantou questões sérias sobre propriedade intelectual e originalidade dos designs gerados.

A Resposta do Figma

Diante dessa situação delicada, o Figma agiu rapidamente. A empresa decidiu temporariamente desativar o Make Designs enquanto trabalha em uma solução. Os assets problemáticos foram removidos do Design System, e a equipe está desenvolvendo um processo de controle de qualidade mais robusto.

Essa decisão demonstra o compromisso do Figma com a integridade e a originalidade no design, mas também ressalta os desafios éticos e legais que surgem quando lidamos com IA generativa no campo criativo.

O Futuro do Make Designs

Apesar desse contratempo, o Figma mantém-se otimista quanto ao potencial do Make Designs. A visão original para a ferramenta, compartilhada pelo Designer de Produto Jordan Singer na Config 2024, permanece intacta: ser um ponto de partida, um "primeiro rascunho" que os designers podem usar como base para sua criatividade.

No futuro, o Figma espera conectar o Make Designs aos Design Systems específicos de cada empresa. Isso permitiria que os designers gastassem menos tempo procurando, montando e configurando componentes, e mais tempo resolvendo problemas reais de design.

Lições Aprendidas

Este incidente com o Make Designs serve como um lembrete importante para toda a indústria de tecnologia: a implementação de IA em processos criativos requer um cuidado excepcional. Não basta ter modelos poderosos e dados abundantes; é crucial garantir que o output gerado seja original, ético e respeite a propriedade intelectual.

Uma coisa que fica clara nessa história é que, por mais avançada que seja a IA, ela ainda não pode substituir a criatividade e o julgamento humano no design. Como o próprio Figma enfatiza, enquanto a IA pode oferecer um ponto de partida, apenas designers humanos podem transformar um rascunho inicial em uma experiência verdadeiramente significativa.

A habilidade de um designer em compreender o contexto, as necessidades do usuário, e as nuances culturais e emocionais de um design é algo que a IA ainda está longe de replicar. O Make Designs e ferramentas similares devem ser vistas como amplificadores da criatividade humana, não como substitutos.

O Que Esperar Daqui para Frente

Enquanto o Make Designs está temporariamente fora do ar, outras funcionalidades de IA do Figma - como a Pesquisa Visual e ferramentas para renomear camadas e traduzir texto - continuam disponíveis em beta limitado.

O Figma está comprometido em "acertar" o Make Designs antes de relançá-lo. Isso provavelmente envolverá uma revisão mais rigorosa dos Design Systems que alimentam esse modelo, testes mais extensivos e, possivelmente, a implementação de salvaguardas adicionais para evitar a geração de designs que se assemelhem demais a produtos existentes.

Além disso, o Figma enfatiza que o feedback da comunidade é crucial para garantir que eles estejam construindo as coisas certas. Este incidente demonstra o valor dessa abordagem colaborativa: foi um membro da comunidade que primeiro identificou o problema, permitindo que o Figma agisse rapidamente.

O Futuro do Design na Era da IA

O caso do Make Designs do Figma é um microcosmo das oportunidades e desafios que a IA traz para o campo do design. Por um lado, temos o potencial de ferramentas que podem dramaticamente acelerar certos aspectos do processo de design, liberando os designers para se concentrarem em tarefas mais criativas e estratégicas. Por outro lado, temos questões complexas de originalidade, ética e o papel do toque humano no design.

À medida que avançamos nesta nova era, será crucial manter um equilíbrio entre a inovação tecnológica e os valores fundamentais do design: criatividade, empatia e resolução de problemas centrada no ser humano. Uma coisa é certa: o futuro do design será moldado não apenas pela tecnologia que usamos, mas pelas escolhas éticas e criativas que fazemos ao implementá-la. O incidente do Make Designs é apenas o começo de uma conversa muito maior sobre como a IA irá transformar - e ser transformada por - a comunidade de design.

Enquanto aguardamos o retorno do Make Designs, uma coisa permanece clara: o futuro do design é emocionante, desafiador e cheio de possibilidades inexploradas. E você, o que pensa sobre o papel da IA no futuro do design? Compartilhe suas ideias nos comentários abaixo!

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